sábado, 14 de janeiro de 2012

Veja como sua nota deve ter sido calculada - parte 3 de 3

Análise das notas + opinião

Notas de Ciências da Natureza
Colocação ID do aluno Nota TRI Acertos (%)
1 A4 667.7 100
2 A10 586.0 80
3 A3 581.5 80
4 A2 533.6 60
5 A7 486.0 60
6 A1 483.3 50
7 A6 461.3 50
8 A5 433.6 40
9 A9 411.9 30
10 A8 351.8 10


Notas de Matemática
Colocação ID do aluno Nota TRI Acertos (%)
1 A7 675.0 100
2 A10 633.8 90
3 A4 598.3 80
4 A3 533.5 60
5 A6 502.3 50
6 A1 476.6 50
7 A9 442.1 30
8 A5 414.5 20
9 A2 369.1 20
10 A8 347.3 10


Como se pode ver, a TRI força um "achatamento" das notas. Todas elas ficam próximas do valor mediano (500). E não há valor máximo ou mínimo. Por outro lado, a classificação geral é condizente com a quantidade de acertos. Em caso de igualdade de acertos, o sistema privilegia quem acerta questões com mais "coerência", isto é, questões que exijem um nível de habilidade mais próximo do observado no indivíduo.

Então, se a classificação final é coerente, por que o sistema de pontuação é alvo de tantas reclamações? Ora, porque ele está sendo usado da maneira errada. O SiSU, por exemplo, mistura essa pontuação com a nota da Redação, que vale de 0 a 1000. Várias universidades públicas, entre elas UFMG, UFRGS, UFPE e UFBA (a partir do vestibular 2013) adotam a nota do ENEM como 1ª etapa (ou como parte da nota da 1ª etapa) do Vestibular, misturando-a com as notas da 2ª etapa, que não são calculadas através da TRI. Assim, a pontuação máxima na nota final jamais é atingida, nem mesmo se existisse um aluno que acertasse todas as questões do vestibular.

Esse mau uso da nota TRI, que ocasiona um nivelamento artificial, é motivado por interesses políticos. Em outras palavras, faz parte da campanha do Ministro da Educação, Fernando Haddad, para prefeito da cidade de São Paulo. Quantos votos ele não ganhará de pessoas que só puderam ingressar numa Universidade/Faculdade graças ao ENEM? Geralmente alunos vindos da rede pública de ensino, que como de costume tiveram uma vida escolar difícil, sacrificada e sem o devido preparo. Mas... Por culpa dos próprios políticos que não investem e não valorizam a Educação no Brasil, entre eles Haddad. Um paradoxo que faz parte da política. Uma falácia amplamente empregada para comprar votos: a inversão de causa e efeito. Falta ao povo brasileiro a maturidade política para não só perceber isso, como tentar mudar a situação por meio do voto.

No entanto, é fácil ser uma pessoa "esclarecida" quando se estuda em salas climatizadas, com bons professores, sem medo de ser roubado e agredido na escola. É fácil ter "consciência política" quando se tem a certeza de que a merenda não será a única refeição do dia.

A democratização do acesso ao Ensino Supeior tem que continuar: é positiva, e dá oportunidade a muitas pessoas que normalmente não teriam. Mas da forma que está sendo feita, prejudica alunos que não têm nada a ver com a história, e é isso que não deveria acontecer. O Governo promove uma espécie de guerra de classes, onde ele é o salvador das classes econômicas mais baixas, e os estudantes de classe média-alta da rede particular são "filhinhos-de-papai" merecedores de desprezo por, "maldosamente", tirarem as vagas de alunos da rede pública e serem "contra a democratização da Educação Superior". Afinal, "aluno de cursinho não enfrenta dificuldade no vestibular tradicional, que não mede capacidade e sim decoreba". Nessa guerra, falta apenas responder à pergunta: quem é que poderia fazer escolas públicas de excelente qualidade, garantindo o acesso democrático à Educação Básica para todos, mas não o faz? Afinal, quem é que submete milhões de estudantes a um sistema de ensino precário e defasado? Uma dica: são os mesmos que são coniventes com os abusos das escolas particulares, que só querem saber de lucrar com mensalidades cada vez mais altas. Nessa guerra, nenhum aluno vence.

A respeito da prova do ENEM, também podemos perceber o porquê de ela ter o formato que tem. Vejamos: se fosse uma prova curta mas de nível mediano pra difícil, a maioria dos alunos ia se dar mal. Se fosse curta e de nível fácil pra mediano, uma boa parte iria fechar a prova. Se fosse longa e de nível médio pra difícil, as médias seriam baixíssimas. Logo, o formato adotado pelo INEP, de uma prova com questões fáceis/medianas, porém confusa e cansativa, é perfeito para o nivelamento artificial pretendido. Pois os alunos bem preparados acertam muitas questões porém são vencidos pelo cansaço e pouquíssimos acertam tudo; enquanto que alunos sem o devido preparo têm condições de acertar metade de uma das 4 provas.

No mais, este blogueiro espera ter contribuído de alguma forma para o debate sobre a eficácia do ENEM. E que não fique a idéia de que as notas surgem "do nada" e são inquestionáveis. Os critérios de avaliação são cercados de obscurantismo beirando a imbecilidade. Certamente, eles não foram estabelecidos pensando-se no bem dos estudantes.

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